definição

poesia é a especiaria que ativa as pupilas gustativas da língua

quinta-feira, abril 09, 2009

estações da cruz


Estação 1

A Ceia

 

Este é meu corpo

Partido por vocês

Partilhado por vocês

 

Vocês meu corpo

Partido e juntado

Para o compartir

 

Em memória de mim

Perfeitos em unidade

Mas não uniformidade

 

Este é o meu sangue

Que é dado por vocês

Vinho da nova aliança

Vermelho que faz

Ver melhor a verdade

 

Verdade que habita

Cada corpo como cores

Do arco-íris

 

Filhos da luz

Suas cores diferentes

São uma em mim

O prisma

O amor

..........................................................

 

Estação II

Jardins

 

Um homem no jardim

De novo como no começo

Um homem pede

Que o sofrimento passe

 

No outro jardim

Um homem sabia

O que não fazer

Mas fez o que queria

Só o que queria

 

Agora neste jardim

Um homem sabia

O que fazer

E ele fez o que não queria

Muito mais do que podia

 

Você aqui

No planeta-jardim

Já pensou nisso?

 

Você aí

Quem é?

Adão ou Cristo?

 

......................................................................................

 

Estação III

Ecce Homo

 

O suspeito foi preso

Agredido e torturado

 

O suspeito foi julgado

Um blasfemo um herético

Sem direitos – culpado

 

O culpado foi considerado

Um problema político

E sentenciado pelo Estado

.......................................................................................

 

Estação IV

Se quiser me seguir

 

 

A cruz nas costas

As costas nuas

A carne viva da verdade

As farpas chibatas

A raiva a vaia vil pra vida

 

O rosto fosco

O olho roxo

O sangue pisado

E ele humilhado

 

Esse é o caminho

 

 ........................................................

 

Estação V

O outro Simão

 

Não sei não

Se eu fosse Simão

Em plena luz do dia

Será que a levaria?

 

Carregando a cruz

Ao lado de Jesus        

A gente vê a luz

 

 

Esse sujeito

Um preso político

Um problemático

Não o conheço

Não tenho nada com isso

 

O homem em silêncio

Diz que tudo isso

Tem a ver comigo

- o servo sofredor

é o messias prometido

 

.................................................................................

 

Estação VI

Verônica

 

Ela já o tinha visto

Ouvido e crido

 

Ela não podia agora

Desampará-lo

 

Caído ferido

Cansado sedento

 

Ela corre ao seu encontro

Engana os guardas

Nas mãos a cuia com água

E uma toalha molhada

 

Ele bebe

Pousa o rosto no pano

E a olha nos olhos

Agradecido

 

Depois o rosto do amor

Ali como um retrato

De sangue suor e cuspe

 

Agnus dei qui tollis

Pecatta mundi

Miserere nobis

....................................................................................

 

Estação VII

Profecia sobre o povo encolhido

 

Não chorem por mim

mulheres de Jerusalém

chorem por seu filhos e netos

chorem pela desolação que vai vir

chorem pela dispersão

chorem pela inquisição

pelos campos de concentração

pelos filhos-bomba de Ismael

explodindo Israel

chorem todo dia pelo morticínio

pelo antisemitismo

até que eu venha

e faça

paz

...................................................................................

 

Estação VIII

Exposto

 

 

Nu na cruz

Carne e osso

 

Herege proscrito rebelde maldito

 

‘perdoa Pai

eles não sabem...’

 

Herege proscrito rebelde maldito

 

e o ladrão

nosso irmão

pede perdão

 

‘ perdôo e te digo

ainda hoje

você vai estar comigo

no paraíso’

 

………………………………………

 

Estação IX

A família de Deus

 

Em meio à dor

Maria acolhe o novo filho

Em meio à dor

João adota a nova mãe

Somos assim aceitos e adotivos

Na nova família

Amados como o discípulo

Filhos do coração traspassado

Almas espíritos e corpos

transformados

..............................................................................................

 

Estação X

Silêncio e entrega

 

 

1.

O sol nos olhos

oculta tua face

a nuvem escura

encobre tua vontade.

Hoje, agora,

Não estás comigo

Não ouves meu clamor

Estou sozinho

Nada faz sentido.

 

 

2.

A palavra

túnica inconsútil

cobrindo o real

 

soldados brincam

um lance de dados

e na cruz o real grita

– está consumado –

 

no princípio

a palavra é

que inventa o real

 

no fim

a palavra é

(silêncio)

transfigurada

.........................................................................

 

Estação XI

Réquiem - O sonho acabou

 

A cruz vazia

O corpo frio

Dentro do oco da pedra

Todos choram

Eu velo

 

A vida vazia

O pesadelo

no fim da história

.........................................................................................

 

 

Estação XII

Metamorfose

 

Em meio a escuridão milhares de reflexos

sobre todo o seu corpo feito constelação

um brilho um calor outra e a mesma dimensão

borboleta fora do casulo

 

 

 

E dali vem a realidade

Em verdadeira beleza da vida em liberdade

um brilho um calor outra e a mesma dimensão

o Cristo o Senhor nossa ressurreição

 

 

 

Não há motivo pra saudade

Ele está vivo

Venceu a morte e toda maldade   

 

Este é o segredo

que se vive em comunidade

Novas criaturas iluminando a cidade

 

Um brilho um calor surge em meio à escuridão

É Cristo o Senhor nossa ressurreição

1 comentário:

  1. Feliz Páscoa amigo! Adorei!! Pena não poder estar aí para assistir você.
    Que vidas sejam tocadas.
    Sem pedir, usei o poema "Metamorfose" em meu blog...podia né??
    Abraço

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