Estação 1
A Ceia
Este é meu corpo
Partido por vocês
Partilhado por vocês
Vocês meu corpo
Partido e juntado
Para o compartir
Em memória de mim
Perfeitos em unidade
Mas não uniformidade
Este é o meu sangue
Que é dado por vocês
Vinho da nova aliança
Vermelho que faz
Ver melhor a verdade
Verdade que habita
Cada corpo como cores
Do arco-íris
Filhos da luz
Suas cores diferentes
São uma em mim
O prisma
O amor
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Estação II
Jardins
Um homem no jardim
De novo como no começo
Um homem pede
Que o sofrimento passe
No outro jardim
Um homem sabia
O que não fazer
Mas fez o que queria
Só o que queria
Agora neste jardim
Um homem sabia
O que fazer
E ele fez o que não queria
Muito mais do que podia
Você aqui
No planeta-jardim
Já pensou nisso?
Você aí
Quem é?
Adão ou Cristo?
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Estação III
Ecce Homo
O suspeito foi preso
Agredido e torturado
O suspeito foi julgado
Um blasfemo um herético
Sem direitos – culpado
O culpado foi considerado
Um problema político
E sentenciado pelo Estado
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Estação IV
Se quiser me seguir
A cruz nas costas
As costas nuas
A carne viva da verdade
As farpas chibatas
A raiva a vaia vil pra vida
O rosto fosco
O olho roxo
O sangue pisado
E ele humilhado
Esse é o caminho
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Estação V
O outro Simão
Não sei não
Se eu fosse Simão
Em plena luz do dia
Será que a levaria?
Carregando a cruz
Ao lado de Jesus
A gente vê a luz
Esse sujeito
Um preso político
Um problemático
Não o conheço
Não tenho nada com isso
O homem em silêncio
Diz que tudo isso
Tem a ver comigo
- o servo sofredor
é o messias prometido
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Estação VI
Verônica
Ela já o tinha visto
Ouvido e crido
Ela não podia agora
Desampará-lo
Caído ferido
Cansado sedento
Ela corre ao seu encontro
Engana os guardas
Nas mãos a cuia com água
E uma toalha molhada
Ele bebe
Pousa o rosto no pano
E a olha nos olhos
Agradecido
Depois o rosto do amor
Ali como um retrato
De sangue suor e cuspe
Agnus dei qui tollis
Pecatta mundi
Miserere nobis
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Estação VII
Profecia sobre o povo encolhido
Não chorem por mim
mulheres de Jerusalém
chorem por seu filhos e netos
chorem pela desolação que vai vir
chorem pela dispersão
chorem pela inquisição
pelos campos de concentração
pelos filhos-bomba de Ismael
explodindo Israel
chorem todo dia pelo morticínio
pelo antisemitismo
até que eu venha
e faça
paz
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Estação VIII
Exposto
Nu na cruz
Carne e osso
Herege proscrito rebelde maldito
‘perdoa Pai
eles não sabem...’
Herege proscrito rebelde maldito
e o ladrão
nosso irmão
pede perdão
‘ perdôo e te digo
ainda hoje
você vai estar comigo
no paraíso’
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Estação IX
A família de Deus
Em meio à dor
Maria acolhe o novo filho
Em meio à dor
João adota a nova mãe
Somos assim aceitos e adotivos
Na nova família
Amados como o discípulo
Filhos do coração traspassado
Almas espíritos e corpos
transformados
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Estação X
Silêncio e entrega
1.
O sol nos olhos
oculta tua face
a nuvem escura
encobre tua vontade.
Hoje, agora,
Não estás comigo
Não ouves meu clamor
Estou sozinho
Nada faz sentido.
2.
A palavra
túnica inconsútil
cobrindo o real
soldados brincam
um lance de dados
e na cruz o real grita
– está consumado –
no princípio
a palavra é
que inventa o real
no fim
a palavra é
(silêncio)
transfigurada
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Estação XI
Réquiem - O sonho acabou
A cruz vazia
O corpo frio
Dentro do oco da pedra
Todos choram
Eu velo
A vida vazia
O pesadelo
no fim da história
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Estação XII
Metamorfose
Em meio a escuridão milhares de reflexos
sobre todo o seu corpo feito constelação
um brilho um calor outra e a mesma dimensão
borboleta fora do casulo
E dali vem a realidade
Em verdadeira beleza da vida em liberdade
um brilho um calor outra e a mesma dimensão
o Cristo o Senhor nossa ressurreição
Não há motivo pra saudade
Ele está vivo
Venceu a morte e toda maldade
Este é o segredo
que se vive em comunidade
Novas criaturas iluminando a cidade
Um brilho um calor surge em meio à escuridão
É Cristo o Senhor nossa ressurreição