definição

poesia é a especiaria que ativa as pupilas gustativas da língua

sexta-feira, abril 17, 2009

o abençoado*

Quando criança

Contaram a história do que

Tinha vendido o irmão

E o seu nome era igual ao meu

 

Como pode alguém vender o próprio irmão?

Eu perguntava

 

Vender melhor que matar

Existe a possibilidade de sobreviver

Por um milagre

 

Um milagre

Que salva o povo

 

Assim fomos para o Egito

E agora o Egito está aqui

Não posso aceitar

 

A terra prometida é o Reino

ele é o rei

 

Pensando nisso

docemente

o

beijei


*significado de judas

estações da cruz - as instalações

caminhe um pouco pelas
estações da cruz
12 salas
como os doze meses do ano
as doze horas do dia
as doze tribos
os doze discípulos
as doze portas 
da nova jerusalém

entre
estações da cruz XII
metamorfose

branco
sobre
branco
um brilho
um calor

trans
substanciação
estações da cruz XI 
morte


entre
e fique
à vontade

a vida vira a 
outra face?

revida
estações da cruz X
solidão


a noite
escura
d'alma

Deus
Deus-
se
estações da cruz IX
perdão


dentro do coração de Deus
perda
dor
dar

perdoar
estações da cruz VIII
adoção

o trono
a porta
a chama

a família
estações da cruz VII
choro


te
mor
mor
te

aqui

crim
as
estações da cruz VI
misericórdia


os rostos nas toalhas
deus absconditus
vero ikone
estações da cruz V
o fardo


suave 
leve
real
leve-o
estações da cruz IV
discipulado


sobre a palha
como quando nasceu
veja você
e sua (re)missão

estações da cruz III
julgamento

a cruz sutil
jorros de sangue
unindo martin dorothy chico
um pacto
pela justiça
pela paz
estações da cruz II
jardim


as olivas
esmagadas
o azeite
o ungido
derramado

quinta-feira, abril 16, 2009

estações da cruz I

ceia

uma mesa 
um mapa mundi
comida real sobre EUa e EUropa
um pouco pra alguns
nada pra muitos

'o pão nosso é mEU'

quinta-feira, abril 09, 2009

estações da cruz


Estação 1

A Ceia

 

Este é meu corpo

Partido por vocês

Partilhado por vocês

 

Vocês meu corpo

Partido e juntado

Para o compartir

 

Em memória de mim

Perfeitos em unidade

Mas não uniformidade

 

Este é o meu sangue

Que é dado por vocês

Vinho da nova aliança

Vermelho que faz

Ver melhor a verdade

 

Verdade que habita

Cada corpo como cores

Do arco-íris

 

Filhos da luz

Suas cores diferentes

São uma em mim

O prisma

O amor

..........................................................

 

Estação II

Jardins

 

Um homem no jardim

De novo como no começo

Um homem pede

Que o sofrimento passe

 

No outro jardim

Um homem sabia

O que não fazer

Mas fez o que queria

Só o que queria

 

Agora neste jardim

Um homem sabia

O que fazer

E ele fez o que não queria

Muito mais do que podia

 

Você aqui

No planeta-jardim

Já pensou nisso?

 

Você aí

Quem é?

Adão ou Cristo?

 

......................................................................................

 

Estação III

Ecce Homo

 

O suspeito foi preso

Agredido e torturado

 

O suspeito foi julgado

Um blasfemo um herético

Sem direitos – culpado

 

O culpado foi considerado

Um problema político

E sentenciado pelo Estado

.......................................................................................

 

Estação IV

Se quiser me seguir

 

 

A cruz nas costas

As costas nuas

A carne viva da verdade

As farpas chibatas

A raiva a vaia vil pra vida

 

O rosto fosco

O olho roxo

O sangue pisado

E ele humilhado

 

Esse é o caminho

 

 ........................................................

 

Estação V

O outro Simão

 

Não sei não

Se eu fosse Simão

Em plena luz do dia

Será que a levaria?

 

Carregando a cruz

Ao lado de Jesus        

A gente vê a luz

 

 

Esse sujeito

Um preso político

Um problemático

Não o conheço

Não tenho nada com isso

 

O homem em silêncio

Diz que tudo isso

Tem a ver comigo

- o servo sofredor

é o messias prometido

 

.................................................................................

 

Estação VI

Verônica

 

Ela já o tinha visto

Ouvido e crido

 

Ela não podia agora

Desampará-lo

 

Caído ferido

Cansado sedento

 

Ela corre ao seu encontro

Engana os guardas

Nas mãos a cuia com água

E uma toalha molhada

 

Ele bebe

Pousa o rosto no pano

E a olha nos olhos

Agradecido

 

Depois o rosto do amor

Ali como um retrato

De sangue suor e cuspe

 

Agnus dei qui tollis

Pecatta mundi

Miserere nobis

....................................................................................

 

Estação VII

Profecia sobre o povo encolhido

 

Não chorem por mim

mulheres de Jerusalém

chorem por seu filhos e netos

chorem pela desolação que vai vir

chorem pela dispersão

chorem pela inquisição

pelos campos de concentração

pelos filhos-bomba de Ismael

explodindo Israel

chorem todo dia pelo morticínio

pelo antisemitismo

até que eu venha

e faça

paz

...................................................................................

 

Estação VIII

Exposto

 

 

Nu na cruz

Carne e osso

 

Herege proscrito rebelde maldito

 

‘perdoa Pai

eles não sabem...’

 

Herege proscrito rebelde maldito

 

e o ladrão

nosso irmão

pede perdão

 

‘ perdôo e te digo

ainda hoje

você vai estar comigo

no paraíso’

 

………………………………………

 

Estação IX

A família de Deus

 

Em meio à dor

Maria acolhe o novo filho

Em meio à dor

João adota a nova mãe

Somos assim aceitos e adotivos

Na nova família

Amados como o discípulo

Filhos do coração traspassado

Almas espíritos e corpos

transformados

..............................................................................................

 

Estação X

Silêncio e entrega

 

 

1.

O sol nos olhos

oculta tua face

a nuvem escura

encobre tua vontade.

Hoje, agora,

Não estás comigo

Não ouves meu clamor

Estou sozinho

Nada faz sentido.

 

 

2.

A palavra

túnica inconsútil

cobrindo o real

 

soldados brincam

um lance de dados

e na cruz o real grita

– está consumado –

 

no princípio

a palavra é

que inventa o real

 

no fim

a palavra é

(silêncio)

transfigurada

.........................................................................

 

Estação XI

Réquiem - O sonho acabou

 

A cruz vazia

O corpo frio

Dentro do oco da pedra

Todos choram

Eu velo

 

A vida vazia

O pesadelo

no fim da história

.........................................................................................

 

 

Estação XII

Metamorfose

 

Em meio a escuridão milhares de reflexos

sobre todo o seu corpo feito constelação

um brilho um calor outra e a mesma dimensão

borboleta fora do casulo

 

 

 

E dali vem a realidade

Em verdadeira beleza da vida em liberdade

um brilho um calor outra e a mesma dimensão

o Cristo o Senhor nossa ressurreição

 

 

 

Não há motivo pra saudade

Ele está vivo

Venceu a morte e toda maldade   

 

Este é o segredo

que se vive em comunidade

Novas criaturas iluminando a cidade

 

Um brilho um calor surge em meio à escuridão

É Cristo o Senhor nossa ressurreição