definição

poesia é a especiaria que ativa as pupilas gustativas da língua

segunda-feira, janeiro 23, 2006

diana


a armadilha da seda em voz pêlos pele

hipnotiza


o arco do corpo retesa e pousa

sobre a caça carcaça do desejo

até que
ceda

pausa

saciada volta os olhos à beleza
a busca não cessa
a deusa vive da presa

variações em torno do azul


me virei e vi

era ele

vindo

de um modo que só ele poderia

os movimentos lentos e cadenciados

impossível não se fazer notar

no fim das contas

todos estávamos ali por ele

sabíamos onde estaria e viemos

em busca disso

do que sua presença passa

estar junto

se deixar ficar úmidos como mulheres

quando murmura

coisas desconexas

ele sabe ser

superficial e profundo

perigoso e delicado

o par perfeito

então entendi porque a lágrima é salgada

então entendi o verão

domingo, janeiro 08, 2006

rasgando o verbo


“anger is an energy”
john lydon

ninguém rasga versos já que ninguém os lê e só apetecem socialmente certos versinhos travestidos de poesia numa época em que todo mundo quer ser
bonito rico saudável feliz e tudo precisa ser leve e divertido

masapoesiadiznão

ninguém rasga versos de poetas ruins de poemas péssimos contendo babas sentimentalóides vômitos existenciais e fantasias de mudar o mundo com a receita pronta e bobagenzinhas embaladas de humor contaminados pela fala da publicidade e da auto-ajuda afinal o que se quer é entretenimento e ninguém está interessado em descobrir o que vem a ser poesia

- tanto que se acha até hoje que ela se faz com versos

masapoesiadiznão

ninguém rasga versos só poetas quando sabem o que queriam dizer não está dito

os poetas querem dizer o indizível

esse paradoxo o poema sem verso nem frente

no momento da revelação véu do santo dos santos dilacerado remendado costurado frankenstein

o poema ser de linguagem feio e lindo

o poema preciso de palavras precisas do poeta preciso de poesia

preciso de poesia preciso de poesia

o pote de pandora


“Ai palavras, ai palavras/ que estranha potência a vossa(...)/o mel do amor cristaliza/seu perfume em vossa rosa.” Cecília Meireles

num pote de maioneggs sem rótulo cheio de álcool

a mãe fechou uma rosa champagne do buquê de casamento da filha

o efeito foi imediato

ela desabrochou belíssima para sempre

guardamos por muito tempo

até que numa mudança num ato impensado

de curiosidade infantil

o abri

(a rosa)

cada pétala

(cristalizada)

trincou e partiu.

formando-se uma espécie de vitrilho

quebra-cabeças de 15.000 peças.

pouco

depois nos se/par/amo/s

depois

não mais

e essa imagem belíssima paira

intemporal

sobre nosso amor

nem conservar nem cristalizar

const-

ruir isso.

restam duas perguntas essenciais:

1. tudo seria diferente se o pote tivesse sido mantido fechado?

2. de que cor era a tampa do pote?