hipnotiza
o arco do corpo retesa e pousa
sobre a caça carcaça do desejo
até que ceda
pausa
saciada volta os olhos à beleza
a busca não cessa
a deusa vive da presa
me virei e vi
era ele
vindo
de um modo que só ele poderia
os movimentos lentos e cadenciados
impossível não se fazer notar
no fim das contas
todos estávamos ali por ele
sabíamos onde estaria e viemos
em busca disso
do que sua presença passa
estar junto
se deixar ficar úmidos como mulheres
quando murmura
coisas desconexas
ele sabe ser
superficial e profundo
perigoso e delicado
o par perfeito
então entendi porque a lágrima é salgada
então entendi o verão
“anger is an energy”
john lydon
ninguém rasga versos já que ninguém os lê e só apetecem socialmente certos versinhos travestidos de poesia numa época em que todo mundo quer ser
bonito rico saudável feliz e tudo precisa ser leve e divertido
ninguém rasga versos de poetas ruins de poemas péssimos contendo babas sentimentalóides vômitos existenciais e fantasias de mudar o mundo com a receita pronta e bobagenzinhas embaladas de humor contaminados pela fala da publicidade e da auto-ajuda afinal o que se quer é entretenimento e ninguém está interessado em descobrir o que vem a ser poesia
- tanto que se acha até hoje que ela se faz com versos
masapoesiadiznão
ninguém rasga versos só poetas quando sabem o que queriam dizer não está dito
os poetas querem dizer o indizível
esse paradoxo o poema sem verso nem frente
no momento da revelação véu do santo dos santos dilacerado remendado costurado frankenstein
o poema ser de linguagem feio e lindo
o poema preciso de palavras precisas do poeta preciso de poesia
preciso de poesia preciso de poesia
num pote de maioneggs sem rótulo cheio de álcool
a mãe fechou uma rosa champagne do buquê de casamento da filha
o efeito foi imediato
guardamos por muito tempo
até que numa mudança num ato impensado
de curiosidade infantil
o abri
(a rosa)
cada pétala
(cristalizada)
trincou e partiu.
formando-se uma espécie de vitrilho
quebra-cabeças de 15.000 peças.
pouco
depois nos se/par/amo/s
depois
não mais
e essa imagem belíssima paira
intemporal
sobre nosso amor
nem conservar nem cristalizar
const-
ruir isso.
restam duas perguntas essenciais:
1. tudo seria diferente se o pote tivesse sido mantido fechado?
2. de que cor era a tampa do pote?